quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Ariranha

Ai se não fossem teus amores diversos, eu poderia crer num futuro já pretérito, indicativo de intermitente, preposição singular, artigo indefinido. Embora outrora houvesse amor, não sei o que há. Presente ar de solidão. Se há cada dia não me surgisse com uma, boa nova seria um. Aquele que aguardo capaz de amar um, pelo menos de cada vez. Aquele resguardo passado, que de dentro não saia, descobriu-se doador do muito amor empoeirado, recoberto de teias da armadeira que lhe introduziu o veneno dolorido e ardiloso que há muito procura qualquer droga que cure, ou algo que supra, ou algo que assopre. Quem diria... onde só havia lugar pra uma aranha, estás a dar abrigo a tantas outras prontas pra digerir vagarosamente o lhe resta de carne, do lado de dentro despeito. Se ao me ver, o coração voltar a pulsar, há de exalar o veneno transmutado repelente, então as pragas voltarão aos seus buracos, serás são. Meu amor não vai te doer, sou ariranha, meu habitat é de agua doce e calma, me alimento de peixe, mais especificamente: traíra e piranha, sou mansa, pantaneira e espero seu amor pelo resto de uma vida inteira.

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