quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ditadura da caixa preta

Eu costumava tanto querer saber o porquê das coisas e me indignava, me ludibriava, e me fui tão ingênua, como se o mundo tivesse jeito, como se o ser humano tivesse jeito, como se o mundo tivesse qualquer solução que fosse. Ser humano, o que é ser? Eu tinha esquecido do dinheiro. Foi então que alguém me deu um clique dizendo “se você não tem dinheiro, você não tem valor” e de repente tudo fez tanto sentido. Foi então que passei a pensar em mundo sem dinheiro e em dinheiro sem mundo, e é nesse dinheiro que vivemos: sem mundo. Naquela caixa preta onde se pode ver um Brasil de pessoas sorrindo, negros felizes batendo em seus tambores e servindo acarajé, o Rio e seu cristo redentor e uma Amazônia incrível como quem quer dizer: “veja o seu Brasil”, o “nosso Brasil” ao som do hino que nos dá tanto orgulho em tempos de futebol, como se tudo aquilo fosse e existisse daquela maneira linda. De quatro em quatro nos tempos de futebol, e nos tempos da democracia cega esse mesmo clipe se repete. Hipnótico, encantador e nos faz sentir tão estupidamente brasileiros. Assim como as guerras contra o oriente médio que faz com que os Estados Unidos se sintam tão potentes e tão protegidos e tão estupidamente americanos. A ditadura chinesa que faz com que se sintam tão poderosos, tão promissores, e tão estupidamente chineses. Tantas estupidamente pátrias. Mas o que me conforta é que um dia, no dinheiro em que vivemos, será possível fabricar águas, terras, faunas e floras aos montes. Será possível fabricar ouro e metais preciosos. Será possível fabricar milhares de diamantes e minerais preciosos. Será possível reconstruir nossa camada de ozônio, e o melhor de tudo: será possível ampliar o planeta. Ahhhh não dá? Jura? Que pena... pena ninguém saber que NÃO DÁ! Enquanto isso temos um governo comandado por analfabetia acefalistica radicalista que é muito bonito de se ver. Enfim alguém do povo no poder! A vitória da prole! Pão e circo pra todos! Ou melhor bolsa família e mensalão pra todos! O que importa é que o povo ta mudando de status, o poder de compra aumentou, e com isso o estimulo ao consumo, ao consumo, ao consumo, mais uma vez: ao consumo. Mais carros, mais geladeiras, mais celulares, mais computadores e mais televisores, televisores, televisores que gritam na sua orelha o quanto você é errado. É a ditadura da caixa preta que vive gritando o quanto é gordo, o quanto é pobre, o quanto é impotente, o quanto é mal vestido e então desesperado você corre pra loja, pra qualquer uma pra se sentir um pouco melhor. Ou vai ao restaurante compartilhar uma ostentação que você necessita. Você necessita sentar ao lado de várias pessoas desconhecidas. Vc necessita encher a sua pança e morrer de arrependimento depois. Você necessita das filas para ter lazer, porque você tem a opção de sair da fila, mas você fica. Existem montanhas de lixo ao seu redor e você nem percebe. E então mais uma vez eu pergunto, o que é ser? Ser o que quer que sejam? Ser o que quer que seja? Que seja. Não questiono mais, nem quero saber o porquê dos porquês, porque só me resta MESMO aguardar o tão breve e querido...

Fim