terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Espelho

O amor esperado por toda uma vida poderia me aguardar num esquina, num botequim, numa estação, mas me apareceu diante do espelho. Não era exatamente a minha imagem. Eu era em outro alguém. Era o mesmo que me ver, embora não houvesse qualquer semelhança. Como em sonhos sem cabeça nem pé, em que se é, sem qualquer dúvida, o que não é. Era espanto, era também encanto, era pra ser. O encontro de dois espelhos que se refratam num complexo de reflexões gêmeas. Quando há luz, é um bate e rebate infinito. Mas se há sombra, é tudo o que somos, numa de dança de breus contidos, um pouco mais a vontade. Nessa escuridão muito se revela, como imagens em papel fotográfico. Reflexos de alma e retina, num click de segundo contendo eternidade. Almas gêmeas? Além. Gêmeos "inindênticos" em uníssono. O espelho reflete sempre aquilo que é, e é por isso que me antecipo sem refletir. É amor em todo o seu reflexo.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Carnavalha

É uma felicidade triste. Estar entre mil maravilhas, na terra de todas elas, como se a alegria circundasse plastificada, compondo máscaras e adereços que adornam tristezas constantes por instantes febris de exaltação forçada, atribuída como se indispensável a sobrevivência aos vindouros dias que sucedem as cinzas. Tenho tolerado o plástico, como se aqui a tristeza circundasse sem conseguir tocar minha alegria, onde sobrevivo em terra de maravilhas até que a exaltação se acabe, as máscaras caiam e os adornos se esparramem pelo chão, restando o silêncio depressivo de quem retorna ao som da bateria de relógios que despertarão obrigação. Resta ainda minha alegria contida, que anseia o abandono aos encantos mil, pelo real que me aguarda, a felicidade feliz em terra cinzenta, com toda a sua redundância.