quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ditadura da caixa preta

Eu costumava tanto querer saber o porquê das coisas e me indignava, me ludibriava, e me fui tão ingênua, como se o mundo tivesse jeito, como se o ser humano tivesse jeito, como se o mundo tivesse qualquer solução que fosse. Ser humano, o que é ser? Eu tinha esquecido do dinheiro. Foi então que alguém me deu um clique dizendo “se você não tem dinheiro, você não tem valor” e de repente tudo fez tanto sentido. Foi então que passei a pensar em mundo sem dinheiro e em dinheiro sem mundo, e é nesse dinheiro que vivemos: sem mundo. Naquela caixa preta onde se pode ver um Brasil de pessoas sorrindo, negros felizes batendo em seus tambores e servindo acarajé, o Rio e seu cristo redentor e uma Amazônia incrível como quem quer dizer: “veja o seu Brasil”, o “nosso Brasil” ao som do hino que nos dá tanto orgulho em tempos de futebol, como se tudo aquilo fosse e existisse daquela maneira linda. De quatro em quatro nos tempos de futebol, e nos tempos da democracia cega esse mesmo clipe se repete. Hipnótico, encantador e nos faz sentir tão estupidamente brasileiros. Assim como as guerras contra o oriente médio que faz com que os Estados Unidos se sintam tão potentes e tão protegidos e tão estupidamente americanos. A ditadura chinesa que faz com que se sintam tão poderosos, tão promissores, e tão estupidamente chineses. Tantas estupidamente pátrias. Mas o que me conforta é que um dia, no dinheiro em que vivemos, será possível fabricar águas, terras, faunas e floras aos montes. Será possível fabricar ouro e metais preciosos. Será possível fabricar milhares de diamantes e minerais preciosos. Será possível reconstruir nossa camada de ozônio, e o melhor de tudo: será possível ampliar o planeta. Ahhhh não dá? Jura? Que pena... pena ninguém saber que NÃO DÁ! Enquanto isso temos um governo comandado por analfabetia acefalistica radicalista que é muito bonito de se ver. Enfim alguém do povo no poder! A vitória da prole! Pão e circo pra todos! Ou melhor bolsa família e mensalão pra todos! O que importa é que o povo ta mudando de status, o poder de compra aumentou, e com isso o estimulo ao consumo, ao consumo, ao consumo, mais uma vez: ao consumo. Mais carros, mais geladeiras, mais celulares, mais computadores e mais televisores, televisores, televisores que gritam na sua orelha o quanto você é errado. É a ditadura da caixa preta que vive gritando o quanto é gordo, o quanto é pobre, o quanto é impotente, o quanto é mal vestido e então desesperado você corre pra loja, pra qualquer uma pra se sentir um pouco melhor. Ou vai ao restaurante compartilhar uma ostentação que você necessita. Você necessita sentar ao lado de várias pessoas desconhecidas. Vc necessita encher a sua pança e morrer de arrependimento depois. Você necessita das filas para ter lazer, porque você tem a opção de sair da fila, mas você fica. Existem montanhas de lixo ao seu redor e você nem percebe. E então mais uma vez eu pergunto, o que é ser? Ser o que quer que sejam? Ser o que quer que seja? Que seja. Não questiono mais, nem quero saber o porquê dos porquês, porque só me resta MESMO aguardar o tão breve e querido...

Fim

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Parabólica de Talentos

Agora entendo
Destes cinco talentos
E recebestes dez
Destes dois talentos
e recebestes quatro
Me destes vários
Nem sei quantos
E nunca devolvi mais
Me sinto em dívida
Me sinto uma merda
Acho q nem ao banco os levei
pra render sequer juros
Que lucro eu te dei?
Então até o que não tenho
Me ser-lhe-á tirado
Calma
Dissestes isso enquanto irado
Dê-me só mais um pequeno tempo
Te devolvo em triplo, (juro)
Tudo que me foi dado

(Trechos)

...daquela cidadezinha de vigor e sem qualquer importância pro mundo, o que pouco importa pra quem mora lá, uma jovem cansada debruça na janela, com vestido meio úmido do tanque molhado e da água que deixara respingar lavando roupa, alinha os fios dos cabelos que lhe entrecobriam os olhos escuros e profundos que buscavam por ele: Zé Calvário. Filho de fazendeiro rico que se criou em lombo de cavalo, era encantador de gado. Ninguém naquela cidade jamais viu alguém comandar rebanho com tanto domínio feito Zé Calvário. Acordava cedo, tomava banho de rio perto das lavadeiras, só pra ouriçar o mulheril que suspirava por onde ele passava. Em seguida tomava um ligeiro banho de sol, e seus cabelos claros reluziam do outro lado. Muitas o chamavam de “homem de ouro” por todos os sentidos da palavra. Aquele homem valia ouro. Seu pai era dono de quase metade das terras daquela cidadezinha, mandava e desmandava como havia de ser. Era honrado e respeitado porque era homem generoso, era homem justo. Mas jamais teve as rédeas de sua cria. Zé Calvário era da vida, livre e indomável feito bicho selvagem.

Finzinho de tarde Zé Calvário sempre aparecia no bar da cidade junto a uns poucos amigos pra relaxar com um pouco de cachaça, e da janela da moça dava pra vê-lo chegar com seu cavalo puro sangue feito príncipe de conto de fadas. De quem será o coração desse moço pensava ela a quem Deus daria tanta sorte...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vou começar...

To precisando mergulhar na piscina do meu quarto, tirar as grades do espelho, passar um pano em tudo... abrir as portas do armario, mudar o figurino, o personagem... Preciso tirar o nariz de palhaço, a cara pálida, o sorriso pintado... não dá pra dar um passo maior só porque o sapato é grande. Desfazer-me da fantasia e do cansaço dela. Libertar minhas feras. É hora do show pra ninguem. Um foco de luz em mim por favor, vou começar...

Carta nº 3

Sabe que esses dias vi um lugar, de meia luz e madeira. O suficiente pra sentir a noite e fazer descer aquela ansiedade com um pouco de álcool. Bom de agradar, difícil de engolir a ansia de vir e não vir. Bem típico, despreocupado. Enjoei, o coração acelerou depois parou de bater. Aí vi esse lugar. Um pouco de desespero me bateu. Perguntei pra mim, me observei -Volte pro inferno de onde veio e leve com vc esse liquidificador - Será que no tempo em que os olhos se encontram tudo se mistura again? Às vezes tenho impressão que não. Às vezes não. Cobra! Esse veneno ainda corre em minhas veias, ainda dói. Perdi os sentidos, não quero mais o que era pra ser. “Era pra ser, era pra ser...” Não agüento mais ouvir isso. Dá pra ser diferente? A crueldade me fez faltar o ar. É certo que ainda não encontrei a cura...

Vê se pára Deus

Confuso? Então me diz o que é certo para que assim seja
Religiosamente
Seguiria esta verdade,
só me diga que é verdade
Pra eu ser inteiramente, juro!
Mas pára! pelo amor de Deus
Pelo amor de você...
Pára
Tenha piedade
Chega de dor
Como se eu tivesse fundo
Como se eu tivesse espaço
Não sou de aço
Nem defunto,
Ainda
não falta muito
Mas sou cheia
Vê se pára.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Far-se-ão

Quando se tem foco
Não importam as pedras
Não importam os sapos
Não importam as cobras
Não importam os ratos
Não importam os burros
Não importam os cavalos
Nenhuma vaca, nenhum veado
Animal algum vai atrapalhar seu caminho
Não haverá barreiras
Cada gota que escorrer no teu rosto
Cada lagrima que cair do teu olho
Far-se-ão valer
Quando se tem foco

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O tardar

O balde está cheio
Não sei porque ainda espero por aquela gota
Aquela que faz tudo se esparramar pelo chão
Aquela que demora a vir, mas se vem inunda
Pra que esperar por ela chuta logo esse balde
É que as doses tardam
Se tardam tenho mais tempo pra existir
Antes que a intensidade me inunde por inteiro e me faça
Viver.

Calma

Esse silêncio grita no meu ouvido
Cobrando a alma, calma!
Já vou! Só não sei quando...
Preciso me embebedar de coragem
E dirigir sem medo, que viagem...
É noite, não se enxerga nada
Mas sei onde vou chegar
Lugar nenhum, eu sei
Mas a sensação é boa
Por isso meus ouvidos doem
Mas calma.

Você precisa de dinheiro

De repente 5:50. Nossa passou tão rápido, mal se fecharam os olhos e algum barulho alardeia, grita, berra, escandaliza que a escravidão continua. Levanta esse teu corpo pesado e doído rápido, porque neste momento os minutos são muito mais rápidos. Um minuto a mais na cama são dez de atraso. Levanta. O frio vai entrar pelas frestas da tua blusa quentinha, vai te arrepiar o corpo, até que acenda a luz. Bom dia. Teus olhos ardem, e através de sombras e vultos vc tenta chegar até o banheiro. Mais frio. Joga água fria no teu rosto, na tua boca, vai anda. É vc tá vivo. Vc se veste pensando que – olha que legal – o dia está só começando “vou trabalhar ou chuto o balde? Vou trabalhar. Preciso de dinheiro”. Boa sorte. No ônibus lotado ao som do pagode vindo de algum celular agradeça, pois hoje não é funk, e nem está chovendo. Caminhando até o campo de concentração onde passará suas próximas 10 horas sob regime militar, pensa na vida, mas olha pro chão pra desviar das merdas. Chegou. Hora de seguir pelo prédio de concreto cor de cinza sem vida, pegue o elevador. Tem 30 pessoas esperando pra entrar, espere, tente pelo menos entrar no elevador sozinho depois de um ônibus abarrotado. Ao esperar o próximo, chegam mais 40 pra subir. Paciência. Entre nesse mesmo, vc já está atrasado. As pessoas se cumprimentam e os odores aparecem. Bafos de café, perfume de quinta, desodorante de sexta, 7º andar. Corredor, luz fria, abra a porta e dê bom dia a todos. Abra um sorriso porque nas próximas dez horas vc vai se virar para resolver todos os problemas do mundo. Sente-se em sua cadeira, ligue o computador e tente não olhar a hora, pois de tempos em tempos o tempo para, e quando achar que passou meia hora e o relógio continuar marcando a mesma hora não se assuste. Quando atender o telefone alguém vai te desejar um bom dia e perguntar se está tudo bem, diga que sim e pergunte o mesmo. Resolva o problema dela. Meio dia. Uma sensação impagável de alívio, afinal passará os próximos 10 minutos desviando de merdas, os próximos 10 minutos na fila do restaurante kilo, vai ser atacado por algum pegador de alumínio pelas ultimas batatas e vai esperar mais cinco até vir outra bandeja. Acabou o suco de laranja. Tudo bem pega o de goiaba. Os próximos 20 minutos comendo com agradável som ambiente de feira, os próximos 10 na fila pra pagar ouvindo os mais absurdos assuntos, e os próximos 10 desviando de merdas. Ufa, faltam só 5 horas pra acabar o dia. Mais 10 horas se passaram entre 15h e 18h, mas foram só 3 por incrível que pareça. Acabou o dia. As trombetas soam, e a felicidade te inunda, desvia das merdas cantarolando, entra no ônibus lotado menos mau humorado, mesmo com o fedor mais saliente, chega em casa e terá cerca de 3 horas pra fazer tudo que vc precisa fazer pra organizar sua vida, toma um banho quente, relaxa, deita na cama, só faltam 5 dias como esse pra chegar o final de semana, apaga luz. 5 minutos. Bom dia, vc precisa de dinheiro.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Incompetente

Gente depois de mim, esbraveja coragem e audácia inconseqüente
Mas os anos de vantagem a fizeram calar,
enquanto nascias eu já sabia falar
e enquanto falas eu já sei pensar.
falar sem pensar é que é incompetência, sabia?
e esse apontar sem saber? Inconseqüência.
Aprendeu?
Não há lição para os burros
São incapazes de enxergar o limite
Limite próprio, é, entendeu?
Melhor deixar quieto.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Tenis ou Squash?

No mal de todas as possibilidades o planeta sucumbe. Nossos guerreiros se armam de raquetes pra que haja sobrevivência mental, e ainda, pra que os olhos não se voltem para esquina por onde passam seus possantes frente aos fracos que morrem de tanta dor por não serem capazes de lutar mais ou por não terem pais bem sucedidos. Os estômagos eletrônicos vazios e cheios cruzam por aquela esquina, passam uns pelos outros como se o caminho fosse deserto, o olhar fixo a frente de onde se quer chegar, enquanto a vida passa pelas laterais sorrateira e imperceptível como um cenário de fundo sem vida. Guerreiros abatidos pela ansiedade exacerbada que faz os joelhos irem ao chão, uma doença de luxo que cabe a si mesmo a própria cura e ainda assim é o fim do mundo, então é preciso mover terras e céus pra que todos saibam o que ninguém quer saber. Os idiotas querem saber. Mas eis que eu iconoclasta contra todos digno de indiferença por julgar os frívolos, sou como eles: sem valor para os frívolos. Queria eu saber como seria o mundo sem moeda, e então se existiriam reis e reinos, a adoração seria ao que atribuída? Milagres dispostos a alguns, procissões... que fascínio é esse pelo poder do outro? Que mania de venerar... de pagar pau. Se a moeda cai, cai o pau, cai o palanque não percebe? Não me peça o braço nesta hora, conte com as costas dos seus amigos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Silêncio

Eu não queria ser surda, mas gostaria de poder apertar mute. Eu já ouço bastante por natureza, mas favor limite aos podres, calunias, burrices, bizarrices, reclamações, venenos... ainda de gente que eu não conheço e nem quero conhecer no ônibus, na mesa ao lado, na fila, na baia ao lado - antes fosse um cavalo na baia ao lado - não, não peça minha opinião porque vou ser grossa, e sou bastante por natureza, tenho intolerância a ignorância, sou ignorante. No máximo um sorriso fraco como símbolo do meu silencio e agradecimento por não insistir. É cada absurdo, que às vezes eu me pergunto como consigo viver num universo de palavras que me fazem faltar o ar. Ninguém sabe nada, mas como falam... falam por gerações inteiras, longínquas, que mania de querer falar o que pensa e o que não pensa pra falar. Às vezes penso que o mundo só vai ter paz, quando houver silêncio.

terça-feira, 30 de março de 2010

Seiva

Socorro,
Me falta seiva
Dessa que ruborece a face
Da que ferve a carne
Impassível de disfarce
Essa que corre de veia em veia
De membro em membro
Até chegar ao topo
Estremece a base
E todas as pontas
Essa que bomba o peito
E obriga o sorriso
Depois o riso
vai o juízo
A calma
A alma

quarta-feira, 24 de março de 2010

Carta nº 2

É bom saber... saber que está tudo bem... saber que está realizando cada sonho seu... e que Deus (aquele que vc não acredita, ou pelo menos não muito) é tão generoso contigo. É tanto talento como eu, só que eu não soube usar. Não tão bem quanto você, aliás nada tão bem como você. Te invejo, por isso quero estar tão perto. Vc é meu oposto. Tudo que quero ser e não sou por covardia, conforto. Mas oposto do meu esboço, pq sou igual a você. Por isso quero estar tão longe. Eu te vivo sabia? Eu te vivo em cada boa notícia dessas que me dá sempre. Eu te vivo em sonhos acordada platôniando as lembranças do que pode ser um dia. Mas não te vivo em vida pq não vivo. Só vivo se vc ao vivo se é que vc me entende. Aquele dia já é ano, e por anos eu vivo esse dia. Anos-luz do meu tempo e do seu – que a gente sabe que é um - querendo que um dia esse dia seja sempre. Pra variar entreletras. Dionísio um dia vc me enlouquece. E que chegue esse dia.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Crônica de merda

A vida é uma merda. As "pequenas coisas" da vida que deveriam "contra-balancear" não são a mesma medida. Não são lá grande coisa. Um troco que não paga o preço de viver. Uma merda. A gente paga um preço alto por qualquer prazer, grande ou pequeno. A vida é linda apenas aos "abençoados". Os "pensadores" são fracos. Não aguentam o tranco. Pensam e não fazem nada, se entediam com nada e se matam. São uns merdas.

Já os "desgraçados" são os verdadeiros heróis da Terra. A capacidade de não desistir, de lutar por qualquer motivo e nada, é um ato de heroísmo. Os "desgraçados" são os que eu deveria reverenciar... todos aqueles que pegam o mesmo ônibus que eu, todas as manhãs, num espaço fisico que quase ultrapassa a lei da física, no transito de são paulo, numa escala 6x1, por um punhado de dinheiro: 600 reais pra mais ou pra menos e dão risada, e se divertem com a desgraça. Se acostumaram com o sofrimento do qual eu jamais serei capaz. Não vale a pena, esse sofrimento não vale a pena. Se um dia algum deles vencer, grande merda.

Eu luto por um futuro que não vem - meu motivo é ridículo - e a areia movediça me cansa. Cansa não ter certeza de nada, cansa ver minha saúde ir embora, cansa chegar perto dos sonhos e não poder tocar, não poder agarrar de vez. Cansa ver o tempo passar. Eu to cansada dos outros, eu to cansada de mim mesma, to cansada de um passado que não me sai da cabeça, é um cansaço sem fim... da vontade de afundar nessa merda.

Toda vez que eu entro num ônibus lotado eu vejo o quanto eu não valho nada ou que valho tanto quanto aquele monte de gente amontoada, sofrida, desesperada. Cheiro de merda.

Por isso eu deveria me reverenciar, por ser mais um herói. Parabéns pra mim. Parabens a todos. Grande merda.

Parabéns aos que tem tudo, e não sabem o valor de nada. Parabéns aos que não tem nada e sabem o valor de tudo. Parabéns aos mediocres que sabem o valor de quase tudo, e não tem quase nada. Que é meio que uma merda.

Grande merda essa que se diz professora e que vive me reprovando... eu me esforço tanto, e ela não salva esforços em me repreender. Qual é a porra da lição, dá pra ser mais clara? Não quero mais aula de reforço, não quero mais tanto esforço pra algo que não me interessa. Me diz o que eu tenho q fazer e me manda embora. Me põe pra fora, me expulsa. Me forma de uma vez, que há cinco eu não saio da mesma matéria. Eu pago. Não quero aprender nada. Para de tentar me obrigar. E não me venha com gracinhas como veio hoje, me trazendo cenas hilárias, pra mostrar que você pode ser engraçada ou legal comigo. Vc é um monstro. Não tenta me mostrar o lado bom pq é pouco. Os outros te compram, mas vc não me compra com essa merda.

Vc é uma merda. Me mata só não de desgosto. De ter sido essa merda e fim.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Momento coca-cola

4:51 da manhã. Até alguns minutos atrás pensava em fazer vestibular amanhã e me transferir pra Unip. Unip. Me dá desespero só de pensar em me formar lá, mas tem outra saída? Depois da desilusão que foi a USP eu não quero me formar em nada. Nem em filosofia mais. Aliás leio tanto sobre filosofia que sentar por quatro anos na mesma carteira só vai me agregar uma bunda quadrada e um rótulo. Um rótulo que todos querem ver enrolado ao meu redor. Eu até queria esse rótulo mas só pras pessoas me deixarem em paz. E então ser filóloga ao invés de aspirante a intelectual. Uma embalagem de coca fica tão sem graça quando a gente tira o rótulo. Mas ainda prefiro ser pet que ser coca. Minha tia falou uma coisa engraçada esses dias. Disse num tom inconformado que hoje quem tem valor é quem tem dinheiro, se vc não tem nada, vc não é ninguém. Achei engraçado. Depois tive vontade de chorar. É a mais pura verdade meu Deus, de certa forma eu sabia disso, mas nunca tinha ficado tão explícito como naquela frase: "se vc não tem nada, vc não é ninguém" ou mesmo "se vc não tem dinheiro, vc não tem valor". Então tudo fez sentido. Todas as sensações estranhas que eu vinha sentindo, os vazios, os porquês, todo aquele turbilhão nauseante que me virou do avesso, botou tudo no lugar num click. E eu achando que o problema era comigo. Antes eu queria voltar a ter tudo, só pra ter aquela felicidade toda denovo. Mas eu percebi que a felicidade é fake pq depende se vc tem dinheiro pra bancar o que ela te proporciona. É possivel sim comprar felicidade, claro que é. Quem é que não é feliz quando "nada" (quando digo nada, digo dinheiro) te impede de fazer aquilo que quer? Quem é infeliz quando pode tudo? Todo mundo sabe que com dinheiro se pode tudo, inclusive alugar pessoas. Essa é a parte que mais gosto: o que é um psicólogo senão alguém alugado? Ou mesmo uma prostituta, uma dama de companhia, um médico, uma enfermeira, uma dançarina, uma barriga, um amigo... Amigo? É amigo, quando vc tem dinheiro aparecem vários. Amores também, com dinheiro vc fica mais bonito e interessante e vai acabar chamando atenção daquela pessoa que não sai da sua cabeça. Basta abrir a carteira. Mas a felicidade cansa, enjooa, e então quando tiver tudo, vai ver que a felicidade não é isso, não tá lá. Vai entrar em depressão, abandonar tudo e querer ter uma vida humilde, pq vai achar que a felicidade está nas pequenas coisas. Mas não tá. A felicidade é uma ilusão, não existe. É só um chamariz de trouxa pra continuar querendo viver. Sei la quem inventou esse negócio de felicidade e então as pessoas vivem buscando uma coisa que não existe, só pra não dar cabo da propria vida pq a vida é uma merda. A vida é cruel demais. "Nossa Carol quanta revolta, vc está depressiva, quem tem saúde também é feliz" Aham. Quanta gente não exala saúde e vive reclamando da vida. O que existe é o tempo. Nesse intervalo tudo passa, todos passam, vem altos e baixos e médios e só. Quem se diz feliz é pq não chegou em nenhum dos extremos: nunca teve tudo, e nunca ficou sem nada. O famoso mediocre, que irrita por ser mediocre e irrita por se achar feliz. Só acredito em momentos alegres, esses sim tão raros. Mas felicidade não. Acho que vou tomar uma coca e abrir a felicidade que vem aí. Deve estar ali.

Carta nº 1

... pra isso eu precisaria de liberdade. Logo eu, que me considero tão liberta e tão radical... Tão revolucionária não consigo me desprender das próprias grades em que me crio. Pra revolução é preciso coragem e me falta muita. Acho que é preguiça, quando se falta ainda a certeza. Crer. Jamais cri no que pudesse vir dalí, nada além do dionísio que parece tão à minha espera, convidando pra dançar. Vamos bailar, pegue em minha mão e olhe bem dentro dos meus sonhos. O que você vê? Espelhos por toda parte aposto, por isso não pare de olhar, fique aí pra sempre, olhando. Mas não me faça beber desse vinho, nem toque essa lira pra mim. Vamos dançar ao som do silêncio como costumávamos fazer. Mas diga: como andam os corações dilacerados? O meu tá bem. Mentira. Roubaram. Mentira. Não sei. Vamos mudar de assunto? De que adianta saber, o que vai mudar? Pintei as unhas de vermelho. Queria ver esse frisson. Que saudade do que não foi. Lembra? Quantos dias mais durarão esse dia? E tudo que veio e que ainda vem dele? Acho que eternidades. Sabe quantas horas? Quatro. Quatro pra escrever e quatro da manhã. Tantas horas só pra achar um jeito de esconder, aquilo que não dá pra esconder mais. Mas é fraqueza. Maior do que coragem, maior do que liberdade, maior do que revolução, mas não maior do que um sim.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Adeus Cigarra

2:41 da manhã. Uma cigarra louca começa a gritar como nunca antes havia ouvido. Nem em fazenda. Será um sinal? Não sei. Sei que ela tá me irritando, parece uma panela de pressão no auge, e dizem que a cigarra só pára quando morre. E que inclusive ela explode. Morra cigarra morra. Que vc se exploda. Você está tirando a minha concentração, ou então diz logo o que quer dizer... Eu quero entender suas últimas palavras antes de morrer. Acho que tem uns 20 pernilongos a minha volta, e já aprendi a lidar com eles quem nem bicho faz. Dá uma contraída no músculo e ele sai. As vezes dou uns tapas, inúteis claro, mas acho que é só pra ter certeza que existo, ou pra constar que não morri. Acho q tem uma formiga no meu braço. Ainda bem que ela não saiu do meu olho - Ainda bem? - Sinto que os animais me amam tanto que não querem mais sair de mim. Tenho também uma colônia de fungos fofa que me corrói por dentro. Cultivo-os com bastante doces, eles adoram e eu também, por isso é um benefício mútuo e vivemos felizes assim. Quando eles me irritam muito eu corto. Mas eu não vivo sem doces, nem eles. Principalmente depois de largar o cigarro. A cigarra parou. Será que ela morreu? Ou até, será que ela explodiu? Se ela morreu, ao menos herdei o silêncio, e agora eu entendo o que ela queria dizer. Ela queria que eu escrevesse, porque se não fosse por ela eu não estaria agora escrevendo. Nem você teria rido. Nem o cachorro teria latido. Nem meu gato teria acordado. Adoro o efeito borboleta, e de mais um animal compor meu texto de agora. Borboleta. Se não fosse a cigarra não teria pensado na borboleta. Será que tudo ocorre através desse efeito, tão próximo do acaso e tão longe de Deus? Deus se camufla feito borboleta no efeito ou no acaso? É uma loucura não ter controle de nada ou achar que tem. Viver do achar é heroísmo que finca sua vitória sobre a dúvida. Afinal pra quê saber as respostas se é tão possível viver de qualquer coisa que não seja verdade? As mentiras são tão mais interessantes e por isso todo mundo é Deus. Capaz de viver entre verdades mentirosas e mentiras verdadeiras ao seu bel modo e ainda assim aprender. Aprender que a verdade era mentira e que a mentira era verdade ou vice versa e assim sucessivamente.

Cigarra, meus sinceros votos e lamentos.

Descansemos em paz.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Roubadores de sonhos

Não foi dessa vez
pra variar não foi denovo
também era tanta gente
tanta gente que não tem o que fazer
a não ser roubar sonhos
é tanta gente roubando nossos sonhos
que não tem mais espaço pra mim
nem pra você
só pra aqueles que parecem não existir
sensação estranha de que eu pareço não existir
mas porque não estou entre os roubadores de sonhos?
as vezes eu duvido que existo
Só lembro quando alma dói e meu olho escorre
Aí eu tenho certeza de existir
e de não querer existir mais

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um dia de paulistana


Quinta feira, belo dia de sol e tempo quente, abafado, próximo aos 40 graus, saio para uma entrevista na Berrini marcada para as 14h feliz e contente. Pego o onibus normalmente, desço no Shopping Morumbi e pego outro. Antes de entrar no segundo ônibus pergunto:

- Passa na Quintana?
- Passa na Padre Antônio
- Mas passa na Quintana?
- Sim.


Entro no ônibus tranquilamente, e sigo em direção a Berrini, vejo todas as ruas passarem menos a Quintana. De longe avisto a Padre Antônio e me preparo pra descer e xingar o motorista. Tudo bem, eram só 3 quarteirões a frente, pra quem tava de camisa e sapato social, não dá nada fritar um pouco e ficar com uma bolha no pé. No segundo quarteirão procurei alguém no meio daquela multidão, que tivesse bem cara de quem almoça na região e conhece as ruas. Parei um grupo de três pessoas que mto provavelmente eram de alguma agência de publicidade tamanha a leseira:




- Vocês sabem onde fica a Quintana?


- Quintana? Quintana, Quintana.... Não.




Olhei pra cara deles e achei estranho eles não saberem onde era. Para minha sorte a Quintana era no próximo quarteirão, e por acaso os três lesados entraram num restaurante NA Quintana, e nem perceberam. Blz. Subi no prédio, fiz a entrevista, e no finalzinho escutei um trovão, olhei pro céu, era noite as 16h. Saí correndo pra dar tempo de entrar no primeiro ônibus antes da chuva, e consegui. Uhuu glória!


- Esse ônibus passa no Shopping Morumbi?


- É pra lá que eu vou - disse o motorista.




Dentro do ônibus o mundo começou a cair em água, e como se não bastassem as rajadas de vento, a água subindo numa velocidade incrível, os raios estrondosos e os trovões, todos os transformadores de onde o ônibus passava resolveram explodir. Nos quatro trechos em que o ônibus precisou parar, os transformadores explodiam em sequência e em consonancia com os raios e trovões. As pessoas gritavam no ônibus e pediam desesperadamente para o motorista acelerar. Quando chegou na Vivo, a cobradora disse:




- Ué moça vc não vai descer? O ônibus não passa na frente do shopping, a gente vai virar na marginal e vai pra Conceição. - Hein?






Minha vontade era imensa de xingar o motorista e descontar nele a raiva do outro motorista que me fez descer uns três pontos antes. Desci do ônibus, e adivinhem? A chuva era lateral. Todas as pessoas se amontoaram no ponto de onibus, tentando se proteger da agua. A imagem era bonita, parecia um time de futebol quando se enfileira pra foto, porém todos de sombrinhas de diversas cores viradas pra rua, tentando se protegerem da água que os carros e caminhões jogavam neles.




Fui pra portaria da Vivo logo atras, mas a chuva lateral não me protegia em nada, e novamente explodiu mais um transformador. Se o barulho de dentro do ônibus era estarrecedor, imagina embaixo dele? Além disso voavam faíscas e pedaços de transformador. Decidi ir correndo na chuva para o Shopping Morumbi. Até pensei em entrar e comer alguma coisa, esperar a chuva passar. Mas se eu esperasse ia ter q ficar a noite lá esperando a agua baixar. Saí correndo pela avenida, junto com uma menina coitada que tava de vestido floral e uma bolsinha apenas, igual um pinto molhado perdido naquele temporal em que mal se conseguia visualizar o Shopping. Ela seguiu em frente, e eu atravessei pro lado contrário. Avistei uma van de longe, e corri muito pra chegar até ela, mas quando eu parecia me aproximar, de repente um galho de arvore que por sorte não caiu na minha cabeça, caiu na minha mão. Eu ouvi o barulho do galho batendo no osso, achei que tinha quebrado o dedo tamanha era a dor. Isso me motivou a correr mais, pq ficar na chuva esperando outra van com a mão doendo, ia ser pior. Corri com todas as minhas forças dentro da minha limitação de duas hérneas na base da coluna e consegui chegar: ensopada claro. As pessoas me olhavam com o mesmo espanto que viam a chuva do lado de fora. Conforme a van foi se aproximando da ponte, havia um rio antes dela, nesse momento eu dava graças a Deus por ter entrado na van antes que aquilo virasse um mar.






Conforme o trajeto da van, ia entupindo de pessoas desesperadas querendo fugir da chuva. Esse ônibus fez um trajeto pelo Real Parque, em cada ponto entrava cerca de 8 a 10 empregadas domésticas de uma vez. Elas entravam desesperadas, empurrando pra que pudessem entrar de qualquer maneira. O problema é que elas não eram pequenas. Me senti numa lata de sardinha. Aquelas pessoas estranhas grudadas ao seu corpo e aqueles diversos odores tão próximos, respirando o mesmo ar que o seu - pq na chuva as pessoas são de açucar, fecham o vidro e ninguém mais respira - foi realmente uma sensação desconfortante, eu não conseguia imaginar nada pior do que aquilo na vida. E ainda com aquela dor enorme que estava sentindo na mão sem poder me apoiar começou a me dar desespero. Quando eu achei que fosse impossivel entrar sequer uma formiga naquela van, o motorista me abre a porta e quando eu olho pra fora, é uma senhora ENORME. Ela entrou e foi desesperador. No meio do caminho uma árvore caída bloqueava a passagem, e o motorista não sabia outro caminho. Eu não consegui me manifestar, nem enxergar o que havia de fora, mas por sorte uma pessoa sabia e guiou o motorista. Nesse momento ouvi comentários como:




"Ih o motorista vai dar volta e a gente vai é se perder"


"Motorista vai logo que eu quero assistir cama de gato"


"Ai que demora meu Deus, toda essa volta pra sair aqui"





É impressionante como as pessoas não colaboram nem com o pensamento. E o pior de tudo: todo mundo ria achando a situação engraçada num sentido de conformismo. A impressão que dava era que todo dia era assim, por isso tinha que rir. Cada trecho alagado que passávamos, as pessoas se matavam pra ver os carros boiando. Eu rezava tanto pra sair dalí, sorte que meu ponto era o próximo. Porém no penúltimo ponto, acreditem ou não, desceram duas pessoas, e entraram mais cinco. As últimas duas se agarraram em mim quando a porta fechou. Quando a porta se abriu para que eu pudesse descer no ponto, por quase pressão, eu fui expelida da van, e só não me esborrachei no chão por uma cabeça. A cabeça de uma mulher que foi junto comigo. Nessa cabeça eu me segurei pra não cair.




Conforme eu ia andando tranquilamente ela Padre Lebret em direção a minha casa, o sol mostrava as caras, como uma linda tarde de verão "casamento de viúva" sabe? Conforme eu descia a rua, que se transformou numa passarela de SPFW, eu me senti mais do que Gisele Bundchen. Todos os motoristas dos carros parados me olhavam incrédulos e estupefatos, com olhares dos mais diversos tipos: pena, admiração, medo... ao me verem alí de camisa e calça social completamente enxarcada, olhando pro horizonte cantando "Leve" do Chico Buarque.




Que dia... E pensar que todo dia é assim pra maioria. Imagina quem chega em casa e ainda encontra a propria casa alagada.




É isso aí vamo jogar lixo no chão. E Kassab pelo amor de Deus, vans são desumanas.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Super-herói

Me lembro quando era invencível
bem vinda vida!
venha o que vier e o que quiser vir
pois veio e não sou mais super
talvez um pouco herói de mim
aquela pedra extraterrestre...
acabou tudo
imbatível imploro sobrevivência
piedade pedra, chega
chega de mudar tudo
chega de tudo, muda!
Se muda, me deixa
deixa ser quem eu era
me deixa café com leite
contigo não posso mais
mais de mim impossível
me deixa achar-me invencível
me deixa voltar atrás
Leve contigo o q me corrói
Só deixe o meu peito:
meu peito de super-herói

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Aquele bem

Não posso falar
nem tocar no assunto
uma unica palavra
e mal me interpretarão
que loucura doce
só esse peito sabe qual é
acelerado faz correr nas veias
o q me falta pra ser quem sou
sem isso não vivo, existo
se existo não vivo,
quero morrer
quero morrer daquele bem
daquele bem que vem com a dor
e de tanta dor pode vir, vem
Mas espera, falta coragem
tem alguém
este não pode doer
porque este me quer bem
enquanto isso morro
morro daquele bem