quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um dia de paulistana


Quinta feira, belo dia de sol e tempo quente, abafado, próximo aos 40 graus, saio para uma entrevista na Berrini marcada para as 14h feliz e contente. Pego o onibus normalmente, desço no Shopping Morumbi e pego outro. Antes de entrar no segundo ônibus pergunto:

- Passa na Quintana?
- Passa na Padre Antônio
- Mas passa na Quintana?
- Sim.


Entro no ônibus tranquilamente, e sigo em direção a Berrini, vejo todas as ruas passarem menos a Quintana. De longe avisto a Padre Antônio e me preparo pra descer e xingar o motorista. Tudo bem, eram só 3 quarteirões a frente, pra quem tava de camisa e sapato social, não dá nada fritar um pouco e ficar com uma bolha no pé. No segundo quarteirão procurei alguém no meio daquela multidão, que tivesse bem cara de quem almoça na região e conhece as ruas. Parei um grupo de três pessoas que mto provavelmente eram de alguma agência de publicidade tamanha a leseira:




- Vocês sabem onde fica a Quintana?


- Quintana? Quintana, Quintana.... Não.




Olhei pra cara deles e achei estranho eles não saberem onde era. Para minha sorte a Quintana era no próximo quarteirão, e por acaso os três lesados entraram num restaurante NA Quintana, e nem perceberam. Blz. Subi no prédio, fiz a entrevista, e no finalzinho escutei um trovão, olhei pro céu, era noite as 16h. Saí correndo pra dar tempo de entrar no primeiro ônibus antes da chuva, e consegui. Uhuu glória!


- Esse ônibus passa no Shopping Morumbi?


- É pra lá que eu vou - disse o motorista.




Dentro do ônibus o mundo começou a cair em água, e como se não bastassem as rajadas de vento, a água subindo numa velocidade incrível, os raios estrondosos e os trovões, todos os transformadores de onde o ônibus passava resolveram explodir. Nos quatro trechos em que o ônibus precisou parar, os transformadores explodiam em sequência e em consonancia com os raios e trovões. As pessoas gritavam no ônibus e pediam desesperadamente para o motorista acelerar. Quando chegou na Vivo, a cobradora disse:




- Ué moça vc não vai descer? O ônibus não passa na frente do shopping, a gente vai virar na marginal e vai pra Conceição. - Hein?






Minha vontade era imensa de xingar o motorista e descontar nele a raiva do outro motorista que me fez descer uns três pontos antes. Desci do ônibus, e adivinhem? A chuva era lateral. Todas as pessoas se amontoaram no ponto de onibus, tentando se proteger da agua. A imagem era bonita, parecia um time de futebol quando se enfileira pra foto, porém todos de sombrinhas de diversas cores viradas pra rua, tentando se protegerem da água que os carros e caminhões jogavam neles.




Fui pra portaria da Vivo logo atras, mas a chuva lateral não me protegia em nada, e novamente explodiu mais um transformador. Se o barulho de dentro do ônibus era estarrecedor, imagina embaixo dele? Além disso voavam faíscas e pedaços de transformador. Decidi ir correndo na chuva para o Shopping Morumbi. Até pensei em entrar e comer alguma coisa, esperar a chuva passar. Mas se eu esperasse ia ter q ficar a noite lá esperando a agua baixar. Saí correndo pela avenida, junto com uma menina coitada que tava de vestido floral e uma bolsinha apenas, igual um pinto molhado perdido naquele temporal em que mal se conseguia visualizar o Shopping. Ela seguiu em frente, e eu atravessei pro lado contrário. Avistei uma van de longe, e corri muito pra chegar até ela, mas quando eu parecia me aproximar, de repente um galho de arvore que por sorte não caiu na minha cabeça, caiu na minha mão. Eu ouvi o barulho do galho batendo no osso, achei que tinha quebrado o dedo tamanha era a dor. Isso me motivou a correr mais, pq ficar na chuva esperando outra van com a mão doendo, ia ser pior. Corri com todas as minhas forças dentro da minha limitação de duas hérneas na base da coluna e consegui chegar: ensopada claro. As pessoas me olhavam com o mesmo espanto que viam a chuva do lado de fora. Conforme a van foi se aproximando da ponte, havia um rio antes dela, nesse momento eu dava graças a Deus por ter entrado na van antes que aquilo virasse um mar.






Conforme o trajeto da van, ia entupindo de pessoas desesperadas querendo fugir da chuva. Esse ônibus fez um trajeto pelo Real Parque, em cada ponto entrava cerca de 8 a 10 empregadas domésticas de uma vez. Elas entravam desesperadas, empurrando pra que pudessem entrar de qualquer maneira. O problema é que elas não eram pequenas. Me senti numa lata de sardinha. Aquelas pessoas estranhas grudadas ao seu corpo e aqueles diversos odores tão próximos, respirando o mesmo ar que o seu - pq na chuva as pessoas são de açucar, fecham o vidro e ninguém mais respira - foi realmente uma sensação desconfortante, eu não conseguia imaginar nada pior do que aquilo na vida. E ainda com aquela dor enorme que estava sentindo na mão sem poder me apoiar começou a me dar desespero. Quando eu achei que fosse impossivel entrar sequer uma formiga naquela van, o motorista me abre a porta e quando eu olho pra fora, é uma senhora ENORME. Ela entrou e foi desesperador. No meio do caminho uma árvore caída bloqueava a passagem, e o motorista não sabia outro caminho. Eu não consegui me manifestar, nem enxergar o que havia de fora, mas por sorte uma pessoa sabia e guiou o motorista. Nesse momento ouvi comentários como:




"Ih o motorista vai dar volta e a gente vai é se perder"


"Motorista vai logo que eu quero assistir cama de gato"


"Ai que demora meu Deus, toda essa volta pra sair aqui"





É impressionante como as pessoas não colaboram nem com o pensamento. E o pior de tudo: todo mundo ria achando a situação engraçada num sentido de conformismo. A impressão que dava era que todo dia era assim, por isso tinha que rir. Cada trecho alagado que passávamos, as pessoas se matavam pra ver os carros boiando. Eu rezava tanto pra sair dalí, sorte que meu ponto era o próximo. Porém no penúltimo ponto, acreditem ou não, desceram duas pessoas, e entraram mais cinco. As últimas duas se agarraram em mim quando a porta fechou. Quando a porta se abriu para que eu pudesse descer no ponto, por quase pressão, eu fui expelida da van, e só não me esborrachei no chão por uma cabeça. A cabeça de uma mulher que foi junto comigo. Nessa cabeça eu me segurei pra não cair.




Conforme eu ia andando tranquilamente ela Padre Lebret em direção a minha casa, o sol mostrava as caras, como uma linda tarde de verão "casamento de viúva" sabe? Conforme eu descia a rua, que se transformou numa passarela de SPFW, eu me senti mais do que Gisele Bundchen. Todos os motoristas dos carros parados me olhavam incrédulos e estupefatos, com olhares dos mais diversos tipos: pena, admiração, medo... ao me verem alí de camisa e calça social completamente enxarcada, olhando pro horizonte cantando "Leve" do Chico Buarque.




Que dia... E pensar que todo dia é assim pra maioria. Imagina quem chega em casa e ainda encontra a propria casa alagada.




É isso aí vamo jogar lixo no chão. E Kassab pelo amor de Deus, vans são desumanas.


Um comentário:

  1. Jesus ahahahahaha to chorando de rir com esse post!
    Mas e ai, a entrevista deu certo?
    Era pra que? Me conta tudo, menina!!!!!!!!

    A Mari trabalha na Berrini e eh do lado de casa. Aliás, vc e sua irmã podiam nos fazer uma visitinha, ne?!?!!?

    beijos sua linda

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