sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Momento coca-cola

4:51 da manhã. Até alguns minutos atrás pensava em fazer vestibular amanhã e me transferir pra Unip. Unip. Me dá desespero só de pensar em me formar lá, mas tem outra saída? Depois da desilusão que foi a USP eu não quero me formar em nada. Nem em filosofia mais. Aliás leio tanto sobre filosofia que sentar por quatro anos na mesma carteira só vai me agregar uma bunda quadrada e um rótulo. Um rótulo que todos querem ver enrolado ao meu redor. Eu até queria esse rótulo mas só pras pessoas me deixarem em paz. E então ser filóloga ao invés de aspirante a intelectual. Uma embalagem de coca fica tão sem graça quando a gente tira o rótulo. Mas ainda prefiro ser pet que ser coca. Minha tia falou uma coisa engraçada esses dias. Disse num tom inconformado que hoje quem tem valor é quem tem dinheiro, se vc não tem nada, vc não é ninguém. Achei engraçado. Depois tive vontade de chorar. É a mais pura verdade meu Deus, de certa forma eu sabia disso, mas nunca tinha ficado tão explícito como naquela frase: "se vc não tem nada, vc não é ninguém" ou mesmo "se vc não tem dinheiro, vc não tem valor". Então tudo fez sentido. Todas as sensações estranhas que eu vinha sentindo, os vazios, os porquês, todo aquele turbilhão nauseante que me virou do avesso, botou tudo no lugar num click. E eu achando que o problema era comigo. Antes eu queria voltar a ter tudo, só pra ter aquela felicidade toda denovo. Mas eu percebi que a felicidade é fake pq depende se vc tem dinheiro pra bancar o que ela te proporciona. É possivel sim comprar felicidade, claro que é. Quem é que não é feliz quando "nada" (quando digo nada, digo dinheiro) te impede de fazer aquilo que quer? Quem é infeliz quando pode tudo? Todo mundo sabe que com dinheiro se pode tudo, inclusive alugar pessoas. Essa é a parte que mais gosto: o que é um psicólogo senão alguém alugado? Ou mesmo uma prostituta, uma dama de companhia, um médico, uma enfermeira, uma dançarina, uma barriga, um amigo... Amigo? É amigo, quando vc tem dinheiro aparecem vários. Amores também, com dinheiro vc fica mais bonito e interessante e vai acabar chamando atenção daquela pessoa que não sai da sua cabeça. Basta abrir a carteira. Mas a felicidade cansa, enjooa, e então quando tiver tudo, vai ver que a felicidade não é isso, não tá lá. Vai entrar em depressão, abandonar tudo e querer ter uma vida humilde, pq vai achar que a felicidade está nas pequenas coisas. Mas não tá. A felicidade é uma ilusão, não existe. É só um chamariz de trouxa pra continuar querendo viver. Sei la quem inventou esse negócio de felicidade e então as pessoas vivem buscando uma coisa que não existe, só pra não dar cabo da propria vida pq a vida é uma merda. A vida é cruel demais. "Nossa Carol quanta revolta, vc está depressiva, quem tem saúde também é feliz" Aham. Quanta gente não exala saúde e vive reclamando da vida. O que existe é o tempo. Nesse intervalo tudo passa, todos passam, vem altos e baixos e médios e só. Quem se diz feliz é pq não chegou em nenhum dos extremos: nunca teve tudo, e nunca ficou sem nada. O famoso mediocre, que irrita por ser mediocre e irrita por se achar feliz. Só acredito em momentos alegres, esses sim tão raros. Mas felicidade não. Acho que vou tomar uma coca e abrir a felicidade que vem aí. Deve estar ali.

Carta nº 1

... pra isso eu precisaria de liberdade. Logo eu, que me considero tão liberta e tão radical... Tão revolucionária não consigo me desprender das próprias grades em que me crio. Pra revolução é preciso coragem e me falta muita. Acho que é preguiça, quando se falta ainda a certeza. Crer. Jamais cri no que pudesse vir dalí, nada além do dionísio que parece tão à minha espera, convidando pra dançar. Vamos bailar, pegue em minha mão e olhe bem dentro dos meus sonhos. O que você vê? Espelhos por toda parte aposto, por isso não pare de olhar, fique aí pra sempre, olhando. Mas não me faça beber desse vinho, nem toque essa lira pra mim. Vamos dançar ao som do silêncio como costumávamos fazer. Mas diga: como andam os corações dilacerados? O meu tá bem. Mentira. Roubaram. Mentira. Não sei. Vamos mudar de assunto? De que adianta saber, o que vai mudar? Pintei as unhas de vermelho. Queria ver esse frisson. Que saudade do que não foi. Lembra? Quantos dias mais durarão esse dia? E tudo que veio e que ainda vem dele? Acho que eternidades. Sabe quantas horas? Quatro. Quatro pra escrever e quatro da manhã. Tantas horas só pra achar um jeito de esconder, aquilo que não dá pra esconder mais. Mas é fraqueza. Maior do que coragem, maior do que liberdade, maior do que revolução, mas não maior do que um sim.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Adeus Cigarra

2:41 da manhã. Uma cigarra louca começa a gritar como nunca antes havia ouvido. Nem em fazenda. Será um sinal? Não sei. Sei que ela tá me irritando, parece uma panela de pressão no auge, e dizem que a cigarra só pára quando morre. E que inclusive ela explode. Morra cigarra morra. Que vc se exploda. Você está tirando a minha concentração, ou então diz logo o que quer dizer... Eu quero entender suas últimas palavras antes de morrer. Acho que tem uns 20 pernilongos a minha volta, e já aprendi a lidar com eles quem nem bicho faz. Dá uma contraída no músculo e ele sai. As vezes dou uns tapas, inúteis claro, mas acho que é só pra ter certeza que existo, ou pra constar que não morri. Acho q tem uma formiga no meu braço. Ainda bem que ela não saiu do meu olho - Ainda bem? - Sinto que os animais me amam tanto que não querem mais sair de mim. Tenho também uma colônia de fungos fofa que me corrói por dentro. Cultivo-os com bastante doces, eles adoram e eu também, por isso é um benefício mútuo e vivemos felizes assim. Quando eles me irritam muito eu corto. Mas eu não vivo sem doces, nem eles. Principalmente depois de largar o cigarro. A cigarra parou. Será que ela morreu? Ou até, será que ela explodiu? Se ela morreu, ao menos herdei o silêncio, e agora eu entendo o que ela queria dizer. Ela queria que eu escrevesse, porque se não fosse por ela eu não estaria agora escrevendo. Nem você teria rido. Nem o cachorro teria latido. Nem meu gato teria acordado. Adoro o efeito borboleta, e de mais um animal compor meu texto de agora. Borboleta. Se não fosse a cigarra não teria pensado na borboleta. Será que tudo ocorre através desse efeito, tão próximo do acaso e tão longe de Deus? Deus se camufla feito borboleta no efeito ou no acaso? É uma loucura não ter controle de nada ou achar que tem. Viver do achar é heroísmo que finca sua vitória sobre a dúvida. Afinal pra quê saber as respostas se é tão possível viver de qualquer coisa que não seja verdade? As mentiras são tão mais interessantes e por isso todo mundo é Deus. Capaz de viver entre verdades mentirosas e mentiras verdadeiras ao seu bel modo e ainda assim aprender. Aprender que a verdade era mentira e que a mentira era verdade ou vice versa e assim sucessivamente.

Cigarra, meus sinceros votos e lamentos.

Descansemos em paz.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Roubadores de sonhos

Não foi dessa vez
pra variar não foi denovo
também era tanta gente
tanta gente que não tem o que fazer
a não ser roubar sonhos
é tanta gente roubando nossos sonhos
que não tem mais espaço pra mim
nem pra você
só pra aqueles que parecem não existir
sensação estranha de que eu pareço não existir
mas porque não estou entre os roubadores de sonhos?
as vezes eu duvido que existo
Só lembro quando alma dói e meu olho escorre
Aí eu tenho certeza de existir
e de não querer existir mais

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um dia de paulistana


Quinta feira, belo dia de sol e tempo quente, abafado, próximo aos 40 graus, saio para uma entrevista na Berrini marcada para as 14h feliz e contente. Pego o onibus normalmente, desço no Shopping Morumbi e pego outro. Antes de entrar no segundo ônibus pergunto:

- Passa na Quintana?
- Passa na Padre Antônio
- Mas passa na Quintana?
- Sim.


Entro no ônibus tranquilamente, e sigo em direção a Berrini, vejo todas as ruas passarem menos a Quintana. De longe avisto a Padre Antônio e me preparo pra descer e xingar o motorista. Tudo bem, eram só 3 quarteirões a frente, pra quem tava de camisa e sapato social, não dá nada fritar um pouco e ficar com uma bolha no pé. No segundo quarteirão procurei alguém no meio daquela multidão, que tivesse bem cara de quem almoça na região e conhece as ruas. Parei um grupo de três pessoas que mto provavelmente eram de alguma agência de publicidade tamanha a leseira:




- Vocês sabem onde fica a Quintana?


- Quintana? Quintana, Quintana.... Não.




Olhei pra cara deles e achei estranho eles não saberem onde era. Para minha sorte a Quintana era no próximo quarteirão, e por acaso os três lesados entraram num restaurante NA Quintana, e nem perceberam. Blz. Subi no prédio, fiz a entrevista, e no finalzinho escutei um trovão, olhei pro céu, era noite as 16h. Saí correndo pra dar tempo de entrar no primeiro ônibus antes da chuva, e consegui. Uhuu glória!


- Esse ônibus passa no Shopping Morumbi?


- É pra lá que eu vou - disse o motorista.




Dentro do ônibus o mundo começou a cair em água, e como se não bastassem as rajadas de vento, a água subindo numa velocidade incrível, os raios estrondosos e os trovões, todos os transformadores de onde o ônibus passava resolveram explodir. Nos quatro trechos em que o ônibus precisou parar, os transformadores explodiam em sequência e em consonancia com os raios e trovões. As pessoas gritavam no ônibus e pediam desesperadamente para o motorista acelerar. Quando chegou na Vivo, a cobradora disse:




- Ué moça vc não vai descer? O ônibus não passa na frente do shopping, a gente vai virar na marginal e vai pra Conceição. - Hein?






Minha vontade era imensa de xingar o motorista e descontar nele a raiva do outro motorista que me fez descer uns três pontos antes. Desci do ônibus, e adivinhem? A chuva era lateral. Todas as pessoas se amontoaram no ponto de onibus, tentando se proteger da agua. A imagem era bonita, parecia um time de futebol quando se enfileira pra foto, porém todos de sombrinhas de diversas cores viradas pra rua, tentando se protegerem da água que os carros e caminhões jogavam neles.




Fui pra portaria da Vivo logo atras, mas a chuva lateral não me protegia em nada, e novamente explodiu mais um transformador. Se o barulho de dentro do ônibus era estarrecedor, imagina embaixo dele? Além disso voavam faíscas e pedaços de transformador. Decidi ir correndo na chuva para o Shopping Morumbi. Até pensei em entrar e comer alguma coisa, esperar a chuva passar. Mas se eu esperasse ia ter q ficar a noite lá esperando a agua baixar. Saí correndo pela avenida, junto com uma menina coitada que tava de vestido floral e uma bolsinha apenas, igual um pinto molhado perdido naquele temporal em que mal se conseguia visualizar o Shopping. Ela seguiu em frente, e eu atravessei pro lado contrário. Avistei uma van de longe, e corri muito pra chegar até ela, mas quando eu parecia me aproximar, de repente um galho de arvore que por sorte não caiu na minha cabeça, caiu na minha mão. Eu ouvi o barulho do galho batendo no osso, achei que tinha quebrado o dedo tamanha era a dor. Isso me motivou a correr mais, pq ficar na chuva esperando outra van com a mão doendo, ia ser pior. Corri com todas as minhas forças dentro da minha limitação de duas hérneas na base da coluna e consegui chegar: ensopada claro. As pessoas me olhavam com o mesmo espanto que viam a chuva do lado de fora. Conforme a van foi se aproximando da ponte, havia um rio antes dela, nesse momento eu dava graças a Deus por ter entrado na van antes que aquilo virasse um mar.






Conforme o trajeto da van, ia entupindo de pessoas desesperadas querendo fugir da chuva. Esse ônibus fez um trajeto pelo Real Parque, em cada ponto entrava cerca de 8 a 10 empregadas domésticas de uma vez. Elas entravam desesperadas, empurrando pra que pudessem entrar de qualquer maneira. O problema é que elas não eram pequenas. Me senti numa lata de sardinha. Aquelas pessoas estranhas grudadas ao seu corpo e aqueles diversos odores tão próximos, respirando o mesmo ar que o seu - pq na chuva as pessoas são de açucar, fecham o vidro e ninguém mais respira - foi realmente uma sensação desconfortante, eu não conseguia imaginar nada pior do que aquilo na vida. E ainda com aquela dor enorme que estava sentindo na mão sem poder me apoiar começou a me dar desespero. Quando eu achei que fosse impossivel entrar sequer uma formiga naquela van, o motorista me abre a porta e quando eu olho pra fora, é uma senhora ENORME. Ela entrou e foi desesperador. No meio do caminho uma árvore caída bloqueava a passagem, e o motorista não sabia outro caminho. Eu não consegui me manifestar, nem enxergar o que havia de fora, mas por sorte uma pessoa sabia e guiou o motorista. Nesse momento ouvi comentários como:




"Ih o motorista vai dar volta e a gente vai é se perder"


"Motorista vai logo que eu quero assistir cama de gato"


"Ai que demora meu Deus, toda essa volta pra sair aqui"





É impressionante como as pessoas não colaboram nem com o pensamento. E o pior de tudo: todo mundo ria achando a situação engraçada num sentido de conformismo. A impressão que dava era que todo dia era assim, por isso tinha que rir. Cada trecho alagado que passávamos, as pessoas se matavam pra ver os carros boiando. Eu rezava tanto pra sair dalí, sorte que meu ponto era o próximo. Porém no penúltimo ponto, acreditem ou não, desceram duas pessoas, e entraram mais cinco. As últimas duas se agarraram em mim quando a porta fechou. Quando a porta se abriu para que eu pudesse descer no ponto, por quase pressão, eu fui expelida da van, e só não me esborrachei no chão por uma cabeça. A cabeça de uma mulher que foi junto comigo. Nessa cabeça eu me segurei pra não cair.




Conforme eu ia andando tranquilamente ela Padre Lebret em direção a minha casa, o sol mostrava as caras, como uma linda tarde de verão "casamento de viúva" sabe? Conforme eu descia a rua, que se transformou numa passarela de SPFW, eu me senti mais do que Gisele Bundchen. Todos os motoristas dos carros parados me olhavam incrédulos e estupefatos, com olhares dos mais diversos tipos: pena, admiração, medo... ao me verem alí de camisa e calça social completamente enxarcada, olhando pro horizonte cantando "Leve" do Chico Buarque.




Que dia... E pensar que todo dia é assim pra maioria. Imagina quem chega em casa e ainda encontra a propria casa alagada.




É isso aí vamo jogar lixo no chão. E Kassab pelo amor de Deus, vans são desumanas.