terça-feira, 20 de maio de 2014

Complexo

Tristeza cabe no peito? Chorar é defeito? Ser, humano, é nocivo, descabido e sem jeito diante de um planeta absolutamente perfeito. Observar a harmonia de tudo a sua volta e notar que não há harmonia dentro. É tudo irresoluto em meio a natureza macro simplória que parte de um universo micro e complexo. É universo dentro de universo de maneira infinita que conversam. Universos que de tão macros e micros, fogem aos olhos parecendo não existirem, e então eles não existem, mas existem dislexos. A vida não exige compreensão e o raciocínio é uma maldição, uma mesquinhez. A lógica uma insensatez. Que inveja dos bichos que dormem sem se preocupar com o amanha, que não guardam rancor, que louvam a vida sem a frustração de não ser importante. Que não possuem bens, nem amarras, numa migração pela contemplação do desconhecido constante. Que celebram cada dia de vida em silêncio. Que sabem sentir, sem que isso vire necessariamente um complexo incessante.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Nem eu

E quando vc comemora um ano de longo aprendizado sobre os próprios limites, enfrentando o medo de encarar cada monstro de frente, ouvindo sua respiração, onde cada suspiro te faz estremecer de desespero, de angustia, de raiva e de solidão. Quando você acha que já encarou todos, um exercito surge no horizonte, onde nada acaba e tudo recomeça. Você já não sabe se tem força, se lhe resta alguma coragem, as lágrimas teimam em cair dos olhos como se já não tivessem caído, e caem, pela repetição incompreendida e imposta. De todos os monstros que enfrentei, o que mais temo é o limite. Eu quero ser forte pra agüentar tudo, mas não sou forte pra dizer que não agüento mais. Embora eu tente ignorar a insensibilidade, ignorar que eu preciso da gentileza, da atenção e do esforço, só porque minha luta é muita e ninguém vê. Talvez nem eu veja que luto por nada. 

domingo, 12 de janeiro de 2014

Anorexia

A dor é como se fosse algo essencial. Mas o que me é essencial e me nutre é algo que ignoro. A caminhada solitária de amanha me parece a única saída pra sobrevivência, mas é como se não me importasse viver. É olhar no espelho e enxergar-me gorda de tristeza. A magreza de não se ter nada nas mãos me parece mais aparentável. Então eu paro de comer a esperança que tanto me engorda. Me mantenho magra e vazia até não existir. Eu tento lutar com as forças que não tenho, mas tudo é tão impossível. Impossível ser quem eu era. Olho no espelho e continuo me achando obesa de descrença e no meu prato opto pelo nada com sal e pimenta à vontade, de preferencia nos olhos, acompanhado com o refresco de alguém. Uma eterna briga com o espelho que tenho, um reflexo de mim que não gosto, mas amo a ponto de não romper com a vida. Com a nossa vida. Uma vida sem o espelho é estranho. Estranho não se ver todos os dias. Se ver e não se reconhecer é estranho. É tudo muito estranho. Eu sofro de anorexia de amor.