terça-feira, 24 de agosto de 2010

Parabólica de Talentos

Agora entendo
Destes cinco talentos
E recebestes dez
Destes dois talentos
e recebestes quatro
Me destes vários
Nem sei quantos
E nunca devolvi mais
Me sinto em dívida
Me sinto uma merda
Acho q nem ao banco os levei
pra render sequer juros
Que lucro eu te dei?
Então até o que não tenho
Me ser-lhe-á tirado
Calma
Dissestes isso enquanto irado
Dê-me só mais um pequeno tempo
Te devolvo em triplo, (juro)
Tudo que me foi dado

(Trechos)

...daquela cidadezinha de vigor e sem qualquer importância pro mundo, o que pouco importa pra quem mora lá, uma jovem cansada debruça na janela, com vestido meio úmido do tanque molhado e da água que deixara respingar lavando roupa, alinha os fios dos cabelos que lhe entrecobriam os olhos escuros e profundos que buscavam por ele: Zé Calvário. Filho de fazendeiro rico que se criou em lombo de cavalo, era encantador de gado. Ninguém naquela cidade jamais viu alguém comandar rebanho com tanto domínio feito Zé Calvário. Acordava cedo, tomava banho de rio perto das lavadeiras, só pra ouriçar o mulheril que suspirava por onde ele passava. Em seguida tomava um ligeiro banho de sol, e seus cabelos claros reluziam do outro lado. Muitas o chamavam de “homem de ouro” por todos os sentidos da palavra. Aquele homem valia ouro. Seu pai era dono de quase metade das terras daquela cidadezinha, mandava e desmandava como havia de ser. Era honrado e respeitado porque era homem generoso, era homem justo. Mas jamais teve as rédeas de sua cria. Zé Calvário era da vida, livre e indomável feito bicho selvagem.

Finzinho de tarde Zé Calvário sempre aparecia no bar da cidade junto a uns poucos amigos pra relaxar com um pouco de cachaça, e da janela da moça dava pra vê-lo chegar com seu cavalo puro sangue feito príncipe de conto de fadas. De quem será o coração desse moço pensava ela a quem Deus daria tanta sorte...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vou começar...

To precisando mergulhar na piscina do meu quarto, tirar as grades do espelho, passar um pano em tudo... abrir as portas do armario, mudar o figurino, o personagem... Preciso tirar o nariz de palhaço, a cara pálida, o sorriso pintado... não dá pra dar um passo maior só porque o sapato é grande. Desfazer-me da fantasia e do cansaço dela. Libertar minhas feras. É hora do show pra ninguem. Um foco de luz em mim por favor, vou começar...

Carta nº 3

Sabe que esses dias vi um lugar, de meia luz e madeira. O suficiente pra sentir a noite e fazer descer aquela ansiedade com um pouco de álcool. Bom de agradar, difícil de engolir a ansia de vir e não vir. Bem típico, despreocupado. Enjoei, o coração acelerou depois parou de bater. Aí vi esse lugar. Um pouco de desespero me bateu. Perguntei pra mim, me observei -Volte pro inferno de onde veio e leve com vc esse liquidificador - Será que no tempo em que os olhos se encontram tudo se mistura again? Às vezes tenho impressão que não. Às vezes não. Cobra! Esse veneno ainda corre em minhas veias, ainda dói. Perdi os sentidos, não quero mais o que era pra ser. “Era pra ser, era pra ser...” Não agüento mais ouvir isso. Dá pra ser diferente? A crueldade me fez faltar o ar. É certo que ainda não encontrei a cura...

Vê se pára Deus

Confuso? Então me diz o que é certo para que assim seja
Religiosamente
Seguiria esta verdade,
só me diga que é verdade
Pra eu ser inteiramente, juro!
Mas pára! pelo amor de Deus
Pelo amor de você...
Pára
Tenha piedade
Chega de dor
Como se eu tivesse fundo
Como se eu tivesse espaço
Não sou de aço
Nem defunto,
Ainda
não falta muito
Mas sou cheia
Vê se pára.