terça-feira, 24 de agosto de 2010

(Trechos)

...daquela cidadezinha de vigor e sem qualquer importância pro mundo, o que pouco importa pra quem mora lá, uma jovem cansada debruça na janela, com vestido meio úmido do tanque molhado e da água que deixara respingar lavando roupa, alinha os fios dos cabelos que lhe entrecobriam os olhos escuros e profundos que buscavam por ele: Zé Calvário. Filho de fazendeiro rico que se criou em lombo de cavalo, era encantador de gado. Ninguém naquela cidade jamais viu alguém comandar rebanho com tanto domínio feito Zé Calvário. Acordava cedo, tomava banho de rio perto das lavadeiras, só pra ouriçar o mulheril que suspirava por onde ele passava. Em seguida tomava um ligeiro banho de sol, e seus cabelos claros reluziam do outro lado. Muitas o chamavam de “homem de ouro” por todos os sentidos da palavra. Aquele homem valia ouro. Seu pai era dono de quase metade das terras daquela cidadezinha, mandava e desmandava como havia de ser. Era honrado e respeitado porque era homem generoso, era homem justo. Mas jamais teve as rédeas de sua cria. Zé Calvário era da vida, livre e indomável feito bicho selvagem.

Finzinho de tarde Zé Calvário sempre aparecia no bar da cidade junto a uns poucos amigos pra relaxar com um pouco de cachaça, e da janela da moça dava pra vê-lo chegar com seu cavalo puro sangue feito príncipe de conto de fadas. De quem será o coração desse moço pensava ela a quem Deus daria tanta sorte...

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