terça-feira, 22 de maio de 2012

Herói de flores

E não eh que sempre abre uma janela? Abriram duas antes mesmo da porta se fechar. Uma, deu ao corpo tudo, outra deu corpo a tudo, tudo que eu precisava. Inocência nobre carregando olhos tão profundos, contradição bela, onde a dor tão presente lhe faria experiente e um tanto cinza, ranzinza como quem viveu demais, sem o bom, querendo mais do que nunca vive-lo, mas não há cinza, cinzas apenas. Dali eu vejo um florescer uníssono, foram tantas flores que acobertaram o ja enterrado, e ja mal me recordo que ali jaz. Esquisito, dizem que o tempo cura o desamor, mas acho que o que cura eh somente um novo amor, como o soro feito com o próprio veneno, onde não há cura senão dele mesmo. Ainda assim o tempo me serve de termômetro, cedo e tarde como suas extremidades e digo que eh cedo pra dizer que já eh novo amor, mas eh novo dia, e são tantas flores que já nem me recordo das dores, nem desamores, eh um eterno querer estar entre elas.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Eu estive lá

Eu estive lá, por alguns instantes, e vi um abraço ao passado e uma realidade tentando separar. Era triste, eu pude ver o seu desespero ao ver aquele passado tomado pelo braço a força, sendo levado com lágrimas nos olhos, olhando pra trás, para os olhos esbugalhados, gritos surdos e braços relutantes sem êxito. E quando ele sumiu de vista, teu corpo desfaleceu naquele colchão no chao, definhado em posição fetal e era tanta dor... tanta que cegava a última memória daquele colchão, daquelas paredes, daquela varanda que ventava o amor. O que trouxe agua pura para hidratar aquele corpo seco de tanto chorar. Soprou no seu rosto, e havia um sorriso, havia um olhar acolhedor, um perfume novo naquele lençol, um raio de sol invadiu todas aquelas janelas e arestas, anunciando uma felicidade em potencial, era a vida te trazendo o novo. Acho que ate viu, mas bastou fechar a porta daquele apartamento e fechar também a porta pra que tudo aquilo entrasse. Escolha incompreendida ate pela vida, por você, certamente no futuro, quando compreender que aquele tomado pelo braço não volta mais, nem aquele sorriso, nem o olhar acolhedor, nem aquele perfume.

Cinzas

Nada mais triste que o adeus, só que o falado ou o ouvido. As vezes as coisas terminam por fatores diversos e inversos, e então o tempo vai dando conta de reposicionar tudo de cada lado, mas a despedida? Nada mais triste que a despedida. Sempre despida, desmedida, desiludida, um sopro do ártico no umbigo petrificando o calor de tudo, e depois fica tudo la estático, intacto e de fato quando os olhos se fecham, há uma busca por uma luz que não vem. Escuridão e silêncio e frio e infinitos pontos de interrogação e nenhuma reticência, nenhuma exclamação, e no final um ponto. Tudo tão monocromático, flashes em preto e branco do passado colorido, fotografias da mente, retro-projeções vintage, onde acabaram-se os slides, resta a parede branca, a sala escura, um presente branco, um futuro escuro. E dor... Que não no corpo, nada comparado ao que se tem de memória, o que doi eh tudo que sente, e de uma vez só. Todas as sensações, sentimentos e pressentimentos queimando numa fogueira no estômago, arde tanto que o corpo aciona um sistema hidráulico, a água então brota dos olhos ate que a chama se apague e seja constituido de cinzas apenas, de onde renascerá pra um novo amor.

domingo, 13 de maio de 2012

Nada

Quarenta e cinco no gregoriano, uma eternidade no meu, e nada. Nada mais eh, nada sera. Nada. Tao presente em meu preterito, nada diferente no presente, e entao nada me faria crer no futuro. Nada, intitula meu muito a sua própria significancia, mas sempre haverá sobras. Do lado de ca uma garrafa de vinho bom, brie, camembert, geleia de framboesa e saudade. Do lado de la a musica q nunca fiz e um amor monoplatonico ao burro, ao arrogante, ao prepotente solitário de loucura infinita que só cabe ao mundo e a compreensão de quem vive, se eh que existe mais alguém. O que sobrou daqui eu ofereço ao próximo, quem haveria de negar ao banquete dos deuses com pitada de saudade? Do lado de la quem haveria de querer? Sua procura eh tão vã quanto suas palavras, de nada vai adiantar, como de nada adiantaram as palavras. No meu mundo palavras são palavras, no seu, nem me interessa saber. Exasperador eh saber o que se sabia, a redundância do próprio conhecimento. Mas sabe que no fim eu agradeço? Apesar da também redundância do teu nome, me fez esquecer o primeiro, e ja se pode avistar um terceiro, louco pra me tirar dessa redondeza. E então eu ou você diríamos que nao daria em nada.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Imbecil

E eram tantas promessas e tanta saudade, tanta inverdade que nem sei de onde veio tanto, nem porque, nem pra onde vai tanto. Vão e palavras submersas em sangue, obstruindo o que houver de passagem, a pressão faz faltar o ar de onde eu respirava. Era dele que o meu corpo extraia cada suspiro que chamo de ar, comprimido agora em minhas veias, onde corria tanta vida, ocorre marcha fúnebre, e a canção soturna que anuncia mais uma vez o enterro daquele nome maldito. Sete letras que juntas relembram o trauma de estar diante de quem o carrega ser sempre um grande imbecil. Mas é uma maestria que sempre surpreende, e eu nem vergonha tenho de permitir o que vem de uma surpresa que nao é mais além de tristeza, e nao futuro como sempre acho. Eis que fugirei desta combinação de letras que me fazem doer tudo que eu nao tenho mais de alma, e é tanto. Tão velha de mundo e mais ingênua que criança. Assassino a esperança que me venda os olhos de maneira tão gentil, com suas mãos delicadas, nem percebo quando me empurram pro abismo, então a sensação de queda no escuro, tiro a venda, e o breu me consome, ouço uma gargalhada ao fundo, a mesma de todas as quedas e quem sempre me segura nos braços, é a fiel companheira solidão. Pior que no fundo eu sabia, devo parar de me anistiar, e me fazer cumprir todos os anos de condenação, que já somam uma vida inteira.