quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Adeus Cigarra

2:41 da manhã. Uma cigarra louca começa a gritar como nunca antes havia ouvido. Nem em fazenda. Será um sinal? Não sei. Sei que ela tá me irritando, parece uma panela de pressão no auge, e dizem que a cigarra só pára quando morre. E que inclusive ela explode. Morra cigarra morra. Que vc se exploda. Você está tirando a minha concentração, ou então diz logo o que quer dizer... Eu quero entender suas últimas palavras antes de morrer. Acho que tem uns 20 pernilongos a minha volta, e já aprendi a lidar com eles quem nem bicho faz. Dá uma contraída no músculo e ele sai. As vezes dou uns tapas, inúteis claro, mas acho que é só pra ter certeza que existo, ou pra constar que não morri. Acho q tem uma formiga no meu braço. Ainda bem que ela não saiu do meu olho - Ainda bem? - Sinto que os animais me amam tanto que não querem mais sair de mim. Tenho também uma colônia de fungos fofa que me corrói por dentro. Cultivo-os com bastante doces, eles adoram e eu também, por isso é um benefício mútuo e vivemos felizes assim. Quando eles me irritam muito eu corto. Mas eu não vivo sem doces, nem eles. Principalmente depois de largar o cigarro. A cigarra parou. Será que ela morreu? Ou até, será que ela explodiu? Se ela morreu, ao menos herdei o silêncio, e agora eu entendo o que ela queria dizer. Ela queria que eu escrevesse, porque se não fosse por ela eu não estaria agora escrevendo. Nem você teria rido. Nem o cachorro teria latido. Nem meu gato teria acordado. Adoro o efeito borboleta, e de mais um animal compor meu texto de agora. Borboleta. Se não fosse a cigarra não teria pensado na borboleta. Será que tudo ocorre através desse efeito, tão próximo do acaso e tão longe de Deus? Deus se camufla feito borboleta no efeito ou no acaso? É uma loucura não ter controle de nada ou achar que tem. Viver do achar é heroísmo que finca sua vitória sobre a dúvida. Afinal pra quê saber as respostas se é tão possível viver de qualquer coisa que não seja verdade? As mentiras são tão mais interessantes e por isso todo mundo é Deus. Capaz de viver entre verdades mentirosas e mentiras verdadeiras ao seu bel modo e ainda assim aprender. Aprender que a verdade era mentira e que a mentira era verdade ou vice versa e assim sucessivamente.

Cigarra, meus sinceros votos e lamentos.

Descansemos em paz.

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