sábado, 16 de julho de 2011

Drogada

Depois da eternidade em desespero, a abstinencia me fez revirar na cama sem saber de tempo, quem dirá dia ou mês ou ano, sabe-se lá quantos quinquênios se passaram naquele lençol amarrotado em que desfaleci, faleci e ressuscitei tantas vezes, eu precisava tanto cheirar. Eu vi demonios, tive alucinações, bradei, esmurrei a parede, tive sonhos lindos, chorei... enclausurada em mim mesma, eu quis sair, eu queria ir embora, eu precisava cheirar. O corpo ardeu, e secou. Perdi peso, perdi agua, perdi sangue, perdi vc. Ainda em recuperação beirando a decadência, sua voz recaída então soou. Naquele minuto atemporal que se fez além de um sexagenário segundo, a paz tomou seu acento em meu peito como um anti-depressivo. O crepúsculo da calma iluminou a alma, as janelas se abriram e meus olhos ardiam. Acho que eu até sorri. Mas ainda assim continuo uma drogada, ainda sinto falta do que só a droga faz comigo: felicidade instantânea, alucinada, acelerada... eu ainda preciso cheirar. Cheirar vc.

Nenhum comentário:

Postar um comentário