segunda-feira, 11 de abril de 2011

Monalisa (o)

Acho q nunca falei de você, porque nunca cri em qualquer futuro que seja, ou que fosse, ao ver aquela fila. Mas isso sempre me intrigou, pois, não sei exatamente em que dia foi que entrei nela. Até hoje não sei q lugar ocupo, particularmente até gostaria de saber, mas de fato nunca me importei desde que chegasse a minha vez. Às vezes eu queria saber o número da minha senha, só pra saber se falta pouco ou muito pra controlar um pouco a minha ânsia muita. E toda vez que meu número é chamado, eu acho que é sonho. Não que um dia eu tenha acreditado que fosse verdade, porque não sei se posso chamar de surreal uma realidade. Digo "uma" porque essa realidade surreal é particular, minha e sua. Diferente da que se ouve falar, da que se quer acreditar, ou seja lá o que for a realidade que já chamei de surreal.

É engraçado alguém "ter" uma fila, distribuir senhas, e ser tão generoso nessa arte de dividir o que há de mais belo. É como a Monalisa que está a espera de seu dono que a arrematará por um valor inestimável, imensuravel, sendo digno, que sá, de quem a souber roubar. E enquanto esse dono não chega, ela fica lá, disponivel somente a vista, meio distante, num cubo blindado, por alguns segundos a milhares de interessados que tanto gostariam de tocá-la, de tê-la.

Às vezes fico olhando vc aqui da janela, e tá tão perto... imagens guardadas na caixa que compartilho com a sua fila. Quase uma humanidade inteira a sua espera e vc quase sabe disso. Se eu direcionar a seta universal ao seu nome, e movimentar os dedos querendo dizer palavras, chego até vc na velocidade da luz mas... tenho que fingir que não ligo, me fingir de ocupada, me fingir de omissa, de recatada quando tudo o que eu quero é dizer: te quero. T+e+q+u+e+r+o+enter. Antes tivesse um botão escrito "sim" no teu teclado. Antes o teclado levasse ao pé do teu ouvido as palavras que tento escrever. Antes as imagens que estão tão ao meu alcance me pudessem fazer te tocar. Antes a velocidade da luz te trouxesse pra mim neste segundo. E neste segundo eu só tenho a janela, o cubo blindado ligado a tomada, o teu nome que se diz off-line, uma senha a chamar, pensando num modo de ser seu dono, de te roubar.

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